A Primeira Noite do Crime

Quando chegou a franquia de The Purge nos cinemas, veio com algo estranho: em um futuro “não tão distante”, a sociedade americana após uma crise política-econômica-social tem uma tradição que choca: durante todo o ano, a sociedade vive em prosperidade e em paz até que em um dia específico do ano, toda a sociedade pode liberar sua raiva cometendo qualquer tipo de crime durante 12 horas.

Essa premissa criada por James De Monaco foi levado ao cinema através da Blumhouse e também pela Platinum Dunes, produtora de Micheal Bay, transformando em uma das poucas franquias originais, junto com Ouija, da produtora de Bay. Todos os capítulos da franquia tiveram pontos de vista bastante pertinentes: o primeiro filme tem um ponto de vista de uma família de classe média que ganha vendendo sistemas de segurança. O segundo já vem por outro lado, gente comum que tentam escapar da loucura exacerbada do dia. O terceiro já é literalmente quando a oposição política sente o quanto esse costume da expiação está desvalorizando a sociedade.

A Primeira Noite do Crime toma em ponto de partida meses depois do novo partido, Os Novos Pais Fundadores da America, um partido extremamente conservador, ganha a eleição após uma sociedade americana em uma profunda crise estrutural. Em uma das primeiras medidas é de fazer um experimento sociológico no qual por 12 horas se pode liberar todo e qualquer tipo de sentimento negativo sem culpa.

Para que o experimento funcione, o governo decide que isso funcione na comunidade de Staten Island de Nova York. Como é uma comunidade carente, muitos decidem participar desse experimento pela indenização do governo. Quando o experimento começa, muitos não fizeram o que o governo esperava. Porém de uma hora para outra, muitos começaram a correr para sobreviver a noite da expiação.

Se tem como um detalhe que apareceu nos últimos anos é a questão que os filmes sempre tiveram essa veia de questionamento político, principalmente ao fato de que esse tipo de sociedade poderia se transformar em uma drástica realidade. Pois bem, para quem acompanha a questão política, se tem consciência da ascensão política de Trump no governo dos Estados Unidos transforma a análise dos filmes da saga da Blumhouse como uma compreensão negativa do voto de protesto. Do desprezo do ato de votar ao lado do descontentamento generalizado se transforma em um veículo real para palhaços ou “mitos” cheguem ao poder.

No que se diz na questão técnica, é louvável o que se faz muito com tão pouco. Um bom exemplo disso é o efeito nos olhos dos participantes. Na trama, aqueles que desejam participar do experimento, ganham uma espécie de lentes de contatos e em muitas cenas, dá um efeito bem assustador e impressionante. Apesar de poucas cenas de ação, assim como muitas críticas já falaram, o clímax final que lembra filmes como Attack The Block e Assalto ao 13ºDP de John Carpenter vale a pena ver.

A Primeira Noite do Crime passa longe de ser um filme perfeito do gênero de terror. Entretanto como uma obra de ficção que questiona os efeitos reais do darwinismo social, se transforma em uma obra com uma certa urgência sobre as consequências reais em votos de protesto na sociedade. Uns podem achar (e até com uma certa razão) que isso é apenas uma obra de ficção, entretanto as obras mais perturbadoras da ficção científica são aquelas que o espectador percebe que está ficando mais real do que se imagina.  

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