Ready Player One

Ready Player One deveria ser uma celebração de um fato que o cinema deveria ter em conta: Em nunca subestimar a arte que está se transformando os jogos e de como a mesma está mudando a sociedade. Em um ano no qual se descobre que Grand Thief Auto V quebra recordes de venda e arrecadação, ter esse tipo de filme poderia ser mais uma grande oportunidade de muita gente entrar nessa vibe e entender como os jogos fascinam desde crianças para incentivar o raciocínio lógico até os mais velhos para reativar a memória e outras áreas do cérebro que já foram afetados com o tempo.

Baseado no livro homônimo de Ernest Cline que foi escrito em 2015, o filme coloca em um futuro distante no qual o OASIS, um tipo de aplicativo de realidade virtual criado por James Halliday nos meados de 2020 que leva ao jogador a vivenciar diferentes mundos. Desde jogos que foram populares nos anos 2010 como Minecraft ou tudo que qualquer jogo como Second Life pode entreter o jogador. E quando se diz que o jogador pode ter a total liberdade de ser quem quiser, vão desde heróis do passado como Masterchief, Ryu, Chun-Li e até mesmo Tracer.

Em meados dos anos 2040, o criador morre e antes de morrer informa que ele deixou um easter egg tão poderoso que quem achar o mesmo vai ganhar uma fortuna inestimável. E em meio dessa corrida está Wade, um simples jogador que está tentando algo grande no Oasis para fugir da miséria. Mas quando ele consegue desvendar a primeira chave desse mistério chama a atenção de uma corporação chamada IOI que tenta custe ao que custar a fortuna de Halliday.

Em um certo ponto quando se percebe que a história é uma das piores coisas que Spielberg filmou fácil, fica a grande questão: A obra original é culpada? E quando começa os créditos, a resposta é bem simples: sim. Até em um certo ponto se poderia dar o crédito de como a trama utiliza O Iluminado de Sthephen King no segundo ato porém não basta. A trama trata o espectador como se ele fosse obrigado a reconhecer todas as referências possíveis e impossíveis.

Outro ponto crítico da história está no fundamental: acreditar que por estar cheio de referências e detalhes de uma grande cultura pop atual se pode contar qualquer tipo de história. Em realidade as coisas não funcionam assim. Um bom exemplo disso fica com Detona Ralph que assim como Ready Player One, utiliza os jogos eletrônicos como uma base do seu universo, que mesmo com referências óbvias e sutis não deixa de contar sua história.

Fora isso, acontece algo extremamente irritante que é a falta de empatia que gera o personagem principal. Tye Sheridan é um ator talentoso, entretanto o personagem em si carece tanto de carisma que era muito mais fácil torcer para aparecer o personagem de Lena White (a melhor em cena de longe) ou a de Samantha e seu avatar. Além disso, existia muitos momentos que o personagem passava longe de ser algo natural (a cena de Buckaroo Banzai é a prova disso). E a cereja do bolo da ruindade do filme é do desperdício sem precedentes de Ben Mendelsohn que mais uma vez faz um vilão e mais uma vez é um vilão extremamente caricato. Entretanto uma das melhores cenas do filme está com o personagem e o principal que tenta convencer a ele que sabe da cultura pop mas no final não está prestando atenção nisso e sim no desejo dele de conquistar o Oasis a todo custo.

No que se desrespeita a questão técnica, não tem como negar a maestria de Spielberg em seus filmes. Ainda os cinéfilos são abençoados com ver ainda o rei dos blockbusters em ação. Um exemplo disso está no segmento de O Iluminado que não só demonstra a habilidade de transformar aquele mundo em uma “realidade” aos personagens, mas também de homenagear ao grande Kubrick. Entretanto em outras cenas ficava difícil ter empolgação ou admiração já que todas, assim como o personagem principal, passava longe de ter um apelo. E para piorar, o clímax parecia que era uma perda de tempo difícil de aceitar.

Ready Player One deseja muito ser como o protagonista: Descolado, cheio de referência e tem como alvo agradar aqueles que cresceram vendo tanto a década de ouro dos blockbusters quanto dos jogos, como está sendo agora. Entretanto o que se vê é um filme apático, sonolento, com história absolutamente chata e acima de tudo, que acredita que por ter todas as referências mais deslocadas do universo vai ter aclamação. Um filme que deseja ser cool, entretanto falha miseravelmente. Uma celebração falha para aqueles que vibram pelos pequenos detalhes.

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