Terror A Flor da Pele

Os filmes de terror ainda e continuará por muito tempo servindo como um método de diversão e medo. Já foi confirmado durante muitos anos. Porém muitos, os filmes são uma reflexão pesada e até mesmo perturbadora de uma realidade que sempre fechamos os olhos e não queremos saber se é real ou não. Curiosamente nos últimos anos vivendo por aqui na Argentina a sensibilidade cinematográfica, ou olhar o cinema com os outros olhos ganhou mais um capítulo importante nessa semana.

Nos últimos dias, minha pessoa teve um prazer ou uma oportunidade de poucas de conhecer um Centro Clandestino de Detenção, Tortura e Execução da ditadura militar argentina do período entre 1976 até 1983 culminando com os fracassos desse sistema e a necessidade de democracia de todos os argentinos no momento. Apesar de ter ido por uma questão de trabalho de faculdade, uma das coisas mais interessantes é a lembrança do aspecto cinematográfico de tudo aquilo.

Para muitos que não sabem, o ultimo golpe militar argentino é considerado por muitos o mais brutal da história latino-americana. Um dos principais fatos desse golpe foi o modo quase sistemático do aparato que chamamos Terrorismo de Estado, no qual fica visível a imposição do aparato governamental para programar medo e temor aos que deveriam se sentir amparado por eles mesmos.

Sequestros, torturas e outras coisas mais que culminavam ao final de tudo o “desaparecimento” da pessoa. Esse esquema levou a desaparecer mais de 30000 pessoas incluindo políticos, pessoas comuns, sindicalistas ou qualquer pessoa que tinham um pensamento contrário aos militares. Um dos grandes motivos para eles terem feito essa barbárie, é a questão do que podemos denominar o inimigo interno.

Em conseqüência da guerra fria, muitos militares daqui (em sua maioria, influenciados diretamente pelo governo americano) queriam conter o estilo socialista-comunista proveniente da União Sovietica na América Latina. Também não podemos esquecer que aconteceu isso no nosso país sendo que estranhamos (ou pelo menos por minha parte) a incrível capacidade da nossa sociedade em ter esquecido isso.

A primeira lembrança cinematográfica vem com Os Invasores de Corpos de 1978, de Phillip Kaufuman e primeiro remake da obra de 1958. A segunda adaptação não toca só apenas em uma questão de invasão, em um olhar sociológico, mostra de como a sociedade estava ficando sem emoção e pior ainda está na questão do extermínio das pessoas com sentimentos. Ou seja, viver em uma sociedade castrada de voz ativa.

A sociedade argentina (e também não, a brasileira) viveu momentos de tensão no qual cada pensamento que seja só diferente do que os militares implantavam era praticamente digno de morte. Sindicatos, grêmio de trabalhadores, professores, estudantes, classe artística ou qualquer elemento da sociedade que estivesse contra aos pensamentos que os militares programavam.

O filme praticamente cria um medo no espectador com essa implementação do medo na sociedade. Até hoje, esse estigma do silencio e o conformismo da sociedade após o castrado da ditadura segue em algumas ramas da sociedade no qual um ideal justificou tudo. Por ser uma obra que fala sobre repressão, consegue ser algo extremamente importante, atemporal e acima de tudo perturbador.

Outro fato também a se comentar é na estrutura do centro de detenção. A cada passo dentro do local era sentido com toda dor do mundo o sofrimento de cada preso que estava. Algumas celas tinham uma posição estratégica, próximos as ruas adjacentes, com uma simples proposta, colocarem o extremo terror a todos os vizinhos para ninguém fazer algo fora da linha.

Também eles não pegavam uma pessoa do bairro. Era como se uma pessoa do bairro fosse capturada e levada a outro centro de detenção clandestino para evitar complicações. Ainda incluso nesse “passeio” estava às piores torturas possíveis que o ser humano talvez não consiga suportar, assim lembrando outra obra de terror dessa década atual, O Albergue.

Um grande fato desse filme para fazer um link coerente a temática principal, a ambientação da tortura. Caminhando por cada passo desse centro, não era difícil se sentir igual a obra de Eli Roth. As salas escuras, sem o sol, isolado de tudo e de todos, no qual sente dentro da alma todos os possíveis gritos de cada seqüestrado e muitos torturavam por algo, mas acredito dentro de mim que chegou ao ponto que brincar com a vida humana deixavam eles mais próximos de serem os criadores, sendo que da destruição.

Ver O Albergue hoje junto com as temáticas que já apareceram e se tornaram verdades ao decorrer dos anos e se transformou em uma obra de horror social nos quais toca em temas que estão ai em nossa frente, mas o medo do debate sobre a sociedade é incrível. Não podemos esquecer que a temática de desaparecidos no filme deve ser lembrada sempre, por que assim como aconteceu por aqui com essa temática, todavia desaparecem pessoas ao redor do mundo e poucos se atrevem a perguntar o que realmente aconteceu.

Lembrar desses dois filmes e ver a realidade ao alcance se torna uma das experiências mais macabras que já tive em toda a minha vida. Gostamos de ver filmes de terror para sentir adrenalina no sangue e levar sustos. Porém esses filmes conseguiram criar um medo extremo por que já passamos por fatos similares em nossas sociedades que por incrível que pareça são vendo esses filmes e suas reflexões mais profundas que devemos colocar em nossas cabeças que não devemos esquecer em nenhum momento o nosso passado e fazer que o futuro não seja tão nefasto.


Comentários

  1. Fotos maravilhosas e um texto maravilhoso, João! Parabéns! Você, como fã do gênero de terror, sempre fala sobre esse tipo de filme com muita propriedade.

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  2. As fotos são realmente lindas. Confesso que não sou fã do gênero terror, eu sou do tipo que grita quando a mocinha é atacada, por exemplo. Sua experiência deve ter sido mesmo fascinante.

    Bjs!

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