Resident Evil VII - Biohazard - A reinvenção de uma franquia

Uma das melhores lições que se aprende ao terminar Resident Evil VII - Biohazard é simples: Reinventar. Pode parecer piada, mas quantas vezes somos testemunhas de sagas que tentaram colocar algo diferente dentro do seu universo e tiveram tanto o equilíbrio de bons frutos e desastres colossais? Entre várias que aconteceram no cinema, um dos melhores exemplos está curiosamente no novo capítulo da saga da Capcom que ganhou um gás novo.

Influenciado por uma nova onda de terror de primeira pessoa, Resident Evil VII tem como ponto de partida as desaventuras de Ethan Walters. Após descobrir que sua namorada desaparecida Mia volta a entrar em contato com o mesmo, ele vai direto aonde ela se encontra: em uma pequena fazenda no Louisiana. Entretanto as coisas não começam bem para o mesmo já que ela se encontra viva porém com brotes psicóticos no qual quer matar-ló. E para piorar a situação, ele é sequestrado pelos Bakers: uma família macabra que esconde terríveis segredos. Agora Ethan corre contra o tempo para fugir de um pesadelo sem fim.

Antes de tudo, é bom situar o que acontece com o mercado de terror nos games: Após Amnesia, Outlast e PT - Silent Hills se transformou algo bem recorrente o terror em primeira pessoa. Entretanto o que se pode dizer que esse estilo traz de volta não é os famosos jump scares. Assim como muitos fundamentam a questão do pós-horror no cinema, os jogos de terror em 1º pessoa misturando o “walking simulator” é em realidade a volta do individualismo e a opressão do lugar ao protagonista. Mesmo podendo usar armas ao estilo da franquia, é impossível não sentir o desconforto que o lugar traz ao jogador.

Se pode lembrar de grandes exemplos positivos que aconteceram em franquias como Duro de Matar com seu Duro de Matar A Vingança que ao invés de ser um show de balas, se transformou em um grande show de quebra cabeça e correria. Ou até mesmo em A New Nightmare, no qual Wes Craven trabalha com uma metalinguagem além do absurdo com Freddy trazendo para o “mundo real”. E por último e talvez possa falar por si só: os filmes de James Bond.

Mas assim como muitas franquia de terror, a tentativa de revigorar ou criar um estilo diferente a uma franquia estabelecida pode sair pela culatra. Exemplos como Jogos Mortais que se estendeu além do esperado (mesmo com o 6º capítulo, um dos melhores de toda a franquia), Halloween e principalmente Sexta Feira 13. No caso de Sexta Feira é pior por que por mais que a ideia de Jason Vai Para o Inferno ter uma das ideias mais interessantes para um filme de terror, implementar em uma saga no qual sempre foi focado em um assassino é literalmente triste.

No caso de Resident Evil poderia dizer que o Resident Evil 4 abriu as portas para mudanças extremas para a franquia. Mas a segunda trilogia além deu foco em algo interessante, de uma ameaça global, refletindo a paranóia crescente do terrorismo além de focar na mentalidade da ação que os filmes de Paul W.S. Anderson cultivou para muitos jogadores. Entretanto existem pontos importantíssimos da mudança de tom para Resident Evil 7 que valem a pena ser debatidos.

O primeiro e o mais importante: o protagonista. Apesar de em nenhum momento vemos o seu rosto, existe algo importante nele: ele não é um militar ou alguém com habilidades extraordinárias. É apenas um cara comum. Claro que isso foi citado em quase todas as reviews do jogo e é verdade. Entretanto, diferente do que muitos dizem, ele não é uma pessoa comum a aparecer dentro da franquia Resident Evil. Também existe o caso de Resident Evil Outbreak que não era somente um e sim, vários personagens que são pessoas comuns dentro de uma situação pavorosa. A diferença é que 7 é canônico enquanto Outbreak é spin off.

O segundo é a perspectiva em primeira pessoa. Muitos dizem que isso é uma desvantagem por que quebra toda a mitologia da saga Resident Evil. Nesse ponto já começa a existir uma desavença entre os fãs porque se olhar ao pé da letra, até mesmo o Resident Evil 4 já fez essa quebra total de perspectiva de ao invés de câmeras fixas no corredores, está o famigerado ponto de vista atrás do ombro. Claro que isso tem um propósito e não é a questão dos sustos: imersão e que o jogador sinta essa pressão que a casa dos Bakers gera no jogador.

Quando se fala de volta às origens como é o novo Resident Evil, a primeira pergunta que o jogador tem que se fazer é simples: O que faz Resident Evil ser o que é? Essa pergunta não tinha uma resposta bem clara até o último jogo. Sempre diziam que era uma questão da escassez de recursos ou simplesmente ser escuro. Em realidade, o que faz o último Resident Evil voltar às origens é ser jogado em uma situação de extrema opressão. Onde não sabemos para onde ir … e o que fazer.

Se espera que essa mudança de tom na franquia continue. Que foquem mais no horror isolado que tiroteio desenfreado. Que mude esse tom de zumbis para monstruosidades que conseguem assombrar mais do que um morto vivo. Sem dúvida, um dos melhores jogos de toda a franquia e uma lição bem importante até mesmo para Hollywood … Mudanças sempre serão bem vindas, porém quando se deixa de compreender o que realmente é a saga, tudo que farás daqui em diante, será em vão.

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