O Calvário do Cinéfilo Brasileiro de Ir ao Cinema

É um ritual para todos os cinéfilos a questão de ir ao cinema. Pelo menos ir uma vez por mês ou por semana gastar uma graninha para pelo menos vivenciar uma experiência sem igual de um filme na telona. Seja um filme pipoca de baixa intelectualidade ou um rebuscado filme artístico que conhece diretamente seu publico. Mas hoje, o cinéfilo se esbarra principalmente com um fator muito triste e ao mesmo tempo, digno de cólera e desprezo: o próprio cinema.

A cada rede social que passo para conferir alguma novidade do cinema ou ver o que meus companheiros estão falando sobre determinados filmes, ganha mais espaço a cada dia as reclamações sobre como está difícil ser um cinéfilo brasileiro de acordo com as salas de cinemas desse país. Dia após dia está se tornando um descaso ultrapassando os níveis descomunais entre o mau trato do espaço físico até o mau comportamento do próprio espectador ao cinema.

Hoje está se tornando até comum dizer que ver um filme 3D no Brasil se torne um adereço de luxo e por assim dizer desnecessário. Soa até ligeiramente compreensível quando entras em um blog de cinema e vê quase um texto inteiro, ou fragmentos de uma reclamação implacável contra esse sistema de terceira dimensão digital, desde a ausência de higiene do cinema que cuida do 3D quanto à falta de estrutura para o tal.

Para não dizer que não fui imune a essa situação, no começo do ano fui ao cinema ver Santuário, projeto produzido por James Cameron e em terceira dimensão. Além de assistir o filme com um aparato extremamente desconfortável, tive a infelicidade de perceber que não existia o efeito 3D, ou seja, estava com uns óculos que deixava o filme todo verde e tinha mais capacidade de ver algo do filme direito sem os óculos. Um amigo me explicou que esses óculos que estava usando a essa sala, tinha um detector que transformava o filme em terceira dimensão, sendo que na melhor das “hipóteses” não estava funcionando.

Fora que muitas vezes, quando se vê um filme de bilheteria incrível como... Transformers existiam salas de cinemas que deixava entrar mais pessoas dentro da sala de cinema, assim aumentando e extrapolando a capacidade do ambiente deixando o espectador refém a falta de comodidade em desfrutar uma aventura (?) explosiva desenvolvida por Micheal Bay. Além do fato da própria má educação dos mesmos na sala de cinema com gritos desmedidos, grosserias a níveis extremos e ausência do bom senso em respeitar ao que está ao seu lado que pelo menos tenta fazer o fundamental: Assistir o filme.

Outro fato que percebi e que é alarmante é a incrível lógica de trazer as salas nacionais filmes estrangeiros dublados. Por um lado pode ser mais uma reclamação “chovendo no molhado” que ver filme ao som original é melhor. Mas o ponto aqui está de como isso está chegando a pontos absurdos. Para se terem uma idéia, mais de 50% das cópias de Planeta dos Macacos (R)Evolução no Brasil veio dublado. Imagine para um espectador que quer desfrutar um filme como esse que o som original é primordial, uma dublagem que tira praticamente a emoção do filme e ainda mais de um trabalho aquém do esperado.

Nem precisamos pegar um exemplo longínquo como Estados Unidos para falar sobre a educação de ir ao cinema, vamos ao nosso país vizinho, a Argentina. Por aqui, se paga um preço relativamente adequado para ir ao cinema. Muita das redes de multiplex por aqui como Hoyts, Cinemark e entre outros cumprem normas de como cuidar do cinema de verdade, que não vai só além de buscar uma experiência sensorial ao espectador. Existe também o nível de responsabilidade dos mesmos para entregar ao mesmo espectador que paga, uma sessão de qualidade impar.

Desde sistemas de terceira dimensão que propicia ao mesmo espectador (o tão sonhado sistema digital que nos seduz nas televisões de LCD que se vendem em grandes conglomerados); uma limpeza rigorosa em todas as salas de cinema; o cuidado extremo em deixar o espectador confortável em uma sala de cinema no qual possa se sentir bem; numeração nas cadeiras assim evitando complicações (e ainda mais facilitado com vendas de ingressos on-line); e principalmente a cultura dos espectadores daqui a ver um filme e respeitar o silêncio para desfrutar um filme.

Com essas características sublimes de negatividade que está se tornando em ver um filme está se tornando no Brasil, uma das melhores respostas que podemos dizer que se for para ir ao cinema e evitar complicações em assistir um filme, por ruim ou maravilhoso que seja no cinema... O melhor pensamento se torna em ficar em casa, alugar um filme em uma videolocadora ou ir aquele cineclube que tem nas grandes cidades, soa mais retorno. A cada dia, se torna difícil um brasileiro viver à experiência plena da sétima arte e até mesmo dos avanços que ela está carregando entre si se as mesmas estruturas físicas e a cultura dos mesmos a cada dia que se passa está andando para trás.

Por mais grosseiro que seja os créditos entrada do filme Aqua Teen Esquadrão Força Total – O Filme representa bem o que muitas vezes queremos falar do fundo do nosso coração: a nossa cólera para a falta de respeito que é assistir um simples filme no cinema. Sim, pode ser insensível, mas quem disse que a verdade sempre vem de palavras meigas e uma melodia suave?



Fonte da noticia sobre a questão de Planeta dos Macacos link

Comentários

  1. Texto PERFEITO, João! Acho que o que, pra uns era um grande prazer (ir ao cinema), tem se transformado aos poucos num verdadeiro transtorno. Explico: salas de cinema com péssima manutenção, sujas, sem ar condicionado, bilheterias com filas enormes e poucos atendentes, bombonieres caras, problemas na projeção, problemas de som, quedas de energia, e por aí vai....

    Pior: NADA melhora. No caso da minha cidade, acho que o cinema só vai acordar quando começar a ter mais concorrência.... Aguardo esse dia com ansiedade.

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  2. Anjo, se não acreditas que não acompanho as situações no país ... só o olho aumenta ... e curiosamente, o video é a coroação disso tudo ... principalmente a foto de Diaz ... é o povo comendo, tirando onda e nem ai com o que acontece. Beijos!

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  3. Ir ao cinema aqui no Brasil é uma merda. Não em todos os lugares, é claro, mas aqui na minha cidade (interior de SP) o descaso com as salas do cinema do shopping, a projeção amadora, a programação infantilizante e a má-educação da plateia se faz notar há MUITOS anos.

    E aqui nem tem 3D!

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  4. Mais do que oportuno, João. Está mesmo uma tortura cada vez maior conseguir ir ao cinema. Além de ingresso caro, pessoas sem educação te chutando ou com celulares, salas mal conservadas, funcionários despreparados que ligam as luzes antes da hora. E para completar essa onda de dublados. Planeta dos Macacos foi apenas um exemplo, pior os super heróis (Capitão América e Lanterna Verde) que só vieram dublados em algumas praças. É mesmo triste.

    bjs

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  5. Acho que dá para separar em dois grandes grupos: o problema do público e o problema das redes de cinema. Quanto ao primeiro, que acho bem mais difícil de se mudar, é revoltante e desestimulante (aconteceu-me semana passada de precisar pedir para um homem ao meu lado desligar o celular, que ficou dando 'bipes' de mensagem por uma meia-hora!!). E aí dá para incluir o pseudo-público que vai atrás de qualquer coisa dublada. Mais critério, minha gente! No segundo grupo, acho que nós podemos ter alguma força. Temos o poder de reclamação e de denúncia. As redes nos oferecem um serviço em troca de um pagamento para isso -- nada mais lógico de cobrarmos isso (e na minha cidade a situação vem melhorado nos últimos anos com tanta reclamação que faço e que estimulo aos outros fazerem, acho que dá para dizer). Mas, é uma situação lamentável.

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