Vivenciando o cinema estrangeiro

É tão interessante entrar em determinados fóruns de cinema e constatar que muitas vezes estufamos o peito e dizemos que o nosso cinema brasileiro é mais defeituoso do que um aparato falsificado e que estamos longe de entregar um cinema de qualidade que entrega qualquer outro país, até mesmo criando uma notória inveja aos nossos vizinhos argentinos por possuírem mais prêmios do que o cinema da gente. Porém quando estamos no outro lado, quando estamos começamos a conviver com esse cinema no qual, todos tem inveja, é a mesma coisa quando se falava quando estávamos no Brasil?

Inicialmente a grande resposta é um solene não. Ao viver longe da terra natal e ir para um ar diferente e costumes diferentes, é compreensível sentir que de inicio, tudo que se vê por aqui é o êxtase do novo. Ou seja, tudo que soa diferente ao que se vê ou o que era acostumado em casa se torna uma grande experiência. Tudo aqui, no qual vivencias é valido, e nada mais pulsante do que o cinema em si.

Quando começa a conviver com as pessoas daqui, com a mentalidade de como é abordado o cinema, iniciamos a esquecer paradigmas criados em nossa terra natal. Quando começa a sentir na pele o mecanismo de um outro país em fazer cinema sem duvida aprendemos inicialmente que nem tudo é tão fácil quanto parece e tão pouco tem o glamour quanto sonhamos.

Vivenciar um cinema dito como estrangeiro é um quase sonho de muitos cinéfilos que conhecemos por ai que amam o cinema e nutrem um sentimento de quase xenofobia ao cinema americano. E não quer exemplo melhor aqui mesmo, em nosso país vizinho, a Argentina, país que tem dois Oscars de Melhor Filme Estrangeiro por A História Oficial e O Segredo de Seus Olhos?

O legal de vivenciar o cinema estrangeiro sem duvida é você assistir ao lado de pessoas que vivenciam o cinema local. E não posso reclamar, eles amam o cinema nacional incondicionalmente. Presenciei em algumas sessões de cinema o publico ao redor prestigiando o filme como uma obra de arte, e sim, eles valorizam o cinema como um meio de arte. Ao ponto de chegar a deliciar o silencio na sala de cinema e deixar que a emoção do filme chegue ao espectador.

Mas e os filmes? Como é? Em resposta bem simples, da mesma forma de qualquer mercado cinematográfico. Aqui também como no Brasil, França, Estados Unidos ou qualquer lugar onde os quase – xenofobicos endeusam o cinema também existem suas cotas de filmes. Ou seja, existe uma época que sai só filme comercial e quando só sai filme de festival. A sorte é que aqui conseguem ou tentam equilibrar os dois, porém quando se compreende ao fundo essa questão cai o maior mito que muitas vezes é levantado por pessoas que acreditam que sabe dos movimentos estrangeiros.

Nem tudo que é lançado por aqui é digno de aplausos ou algo do tipo. Nada de desprezo, muito pelo contrario. Todos por aqui admiram o papel de risco que o cinema argentino toma para experimentar novas mídias ou novas formas de fazer cinema. Mas o mesmo publico reclama que esses mesmos filmes experimentais sofrem de falta de contato com o próprio publico e por muitas vezes tachar vários filmes como “filme onde só quem vai ver é alguns críticos e só”.

Também existe aquele tipo de filme popular idiota que nos lembra os trocentos filmes que sai no mundo afora. Desde comédias pastiches protagonizados por atores de televisão ou produções vazias que tem o propósito de trazer um grande publico, e por muitas vezes conseguem ser sucedidos. Por sorte que nos últimos anos alguns cineastas daqui estão conseguindo atrelar essa junção entre o cinema artístico e o cinema popular, tanto que conseguiu um fruto importante, a vitória no Oscar com O Segredo de Seus Olhos.

É a partir do momento que vivenciamos um outro lugar e uma outra cultura consegue ser o primeiro passo a reconhecer o erro dos rótulos que colocam em nossas cabeças e ver que não existe mais um rotulo a dizer que tal país tem um cinema melhor do que o outro. O que se aprende é que o cinema é único, em todos os lugares. Uma expressão de arte onde o autor, tenta conseguir um objetivo, alcançar o publico que quer, seja com risos ou lágrimas. Com diversão ou tragédia. Afina, isso é o cinema.

Comentários

  1. Perfeito texto, João! Belas palavras. Eu sou cinema, como você bem disse. Assisto a tudo sem preconceito de gênero, país. E gosto de ser assim! Não gosto é de opiniões extremas demais...

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  2. Quem realmente gosta de cinema não deve se preocupar com o país de origem do filme, mas sim apreciar as mais diversas histórias, lugares e culturas.

    Através do cinema podemos conhecer o mundo sem sair do lugar.

    Abraço

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  3. Bom Texto! Acho chato quando o fã de cinema nacional é patriota demais e quer defender certos cineastas a qualquer custo. Outra demagogia é esse xenofobismo à hollywood (produz-se lá bombas e filmes de respeito como em qualquer outro lugar do mundo). Agora, que o cinema brasileiro anda deixando a desejar em muitos aspectos, isso anda!

    Cultura na web:
    http://culturaexmachina.blogspot.com

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  4. JP, vivenciar o cinema fora de sua cidade já é uma experiência interessante, quem dirá fora do país.

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  5. Interessante reflexão. Outras o cinema só existe pela diversidade - tanto de abordagens quanto de perspectivas culturais. E cada país é uma cinema específico. Particularmente, sempre defendo o cinema nacional sem ligá-lo ao argentino - não que seja melhor, mas é mais "maduro", por assim dizer, o cinema feito pelos hermanos. Os problemas na produção dos filmes eles também enfrentam, já que, como nós, eles dependem do governo (editais etc), mas eles têm um foco mais apurado que o nosso para questões básicas de dramaturgia.

    Abs!

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  6. É bom sempre ter essa reflexão do que é o cinema. Obrigado a todos que comentaram sobre o texto.

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  7. Belo texto! Para mim, Cinema não existe fronteiras e se for de boa qualidade, ótimo. E se for de outro lugar (tirando o americano), melhor ainda!

    Beijos! ;)

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