Remakes ... Amar ... Odiar ... ou Tolerar?

Com o recém saído trailer americano de Deixa Ela Entrar, remake do terror europeu que saiu a pouco tempo e os passos avançados que David Fincher dá para sua adaptação do sucesso europeu e talvez mundial de Os Homens que Não Amavam as Mulheres voltou a explodir entre a comunidade cinematografica a questão dos remakes. Existem várias correntes que aprovam e que são contra porém por muitas vezes, os argumentos se tornam restritos ou até as vezes falhos. A grande pergunta soa na cabeça de muitos que ... é mais facil saber analisar com cuidado essa mesma questão dos remakes ou tem que ser reavailado a questão cultural do proprio individuo do cinema em si?

Infelizmente não há como negar em nenhum momento que os remakes atuais são a mazela do cinema americano. Muitos a culpam a fuga do grande público por falta de ideias nas terras americanas. Alguns remakes que saíram nesse ano como A Hora do Pesadelo ou Fúria de Titãs em prol da questão financeira já que existe e não se pode ir contra a corrente sobre isso.

O pensamento sustentado pelos que não gostam de remakes refletem muito bem as ideias do sociologo Pierre Bourdieu no qual infelizmente o capitalismo está destruindo a questão artistica do cinema e que quem resitem como os cinefilos de cinema cult, os professores de arte e principalmente os diretores autorais são os salvadores desse tragico caminho que o cinema está seguindo.

Em contraponto, o cinema de hoje infelizmente cresceu de uma maneira inegavel. Hoje qualquer filme que consegue criar um lucro razoavel ou acima do esperado se torna um alvo em potencial ou um agraciado em ter continuações. Exemplos atuais não faltam como Se Beber Não Case, Atividade Paranormal e claro, as inumeras continuações de filmes de terror. Agora se são bons ... não se sabe já que é dificil medir qualidade em determinadas continuações.

Vincent Tournier, professor de ciencias politicas e critico ferrenho de Bourdieu, fala de um ponto fundamental que não se pode negar ou fingir que isso é uma verdade. O professor fala que o cinema americano consegue abranger um bom público já que consegue ter uma linguagem comum que consegue ser eficiente em conseguir transmitir muito bem a sua mensagem (claro, dependendo do filme). Ou seja, consegue ser muito mais eficiente na sua proposta do que criar uma coisa isolada onde poucos conseguem compreender.

Existe uma co-relação entre as ideias desses formadores de opiniões com a tematica polêmica dos remakes. Para muitos, o remake reflete a ideia de Bourdieu, da destruição do cinema, já que muitos creem que é uma visão deturpada e inconsequente da obra original, assim destruindo a sua essencia criando uma anomalia cultural que foi concebida para uma mentalidade que não abusa muito além do senso comum.

A outra parcela vê os remakes como uma oportunidade de novas gerações testemunharem ideias interessantes dentro de um contexto abrangente e “atual” dependendo do projeto. Muitos vêem O Chamado de Gore Verbinski como um precursor fundamental para a onda de releituras no cinema americano que vão desde fitas de horror oriental, dramas sul-americanos e obras peculiares europeias.

Infelizmente a maioria das releituras que vieram depois não dotam de uma qualidade cinematográfica toleravel, no exemplo das releituras de fitas de horror orientais, o cinema hollywoodiano abriu mão de particularidades culturais que estavam dentro das fitas originais e com isso prejudicou não só apenas a leitura do remake, mas também a oportunidade do proprio espectador buscar os filmes originais. Um exemplo perfeito disso está no remake de O Chamado que tirou elementos fundamentais do filme original para simplificar ao novo publico, principalmente na mudança brusca de foco.

Existem casos curiosos de remakes que mesmo não querendo ser melhor do que o original, conseguem o fundamental, ser um bom filme. Exemplos curiosos vem de Sem Reservas e 171. Sem Reservas é o remake do alemão Simplesmente Martha que em sua versão americana conseguiu bons pontos em criar um filme suave e ao mesmo tempo adoravel tão quanto o filme original. 171 é o exemplar americano produzido por George Clooney para o filme argentino Nove Rainhas que é estrelado por Ricardo Darin. Outro filme que em nenhum momento quis ser melhor do que o original, mas que a sua linguagem acessivel hollywoodiana fez um filme eficiente, além claro de ver uma atuação corretissima de John C. Reilly.

Porém quando é tocado nesse ponto, a maioria dos que são contra os remakes nunca questionam ou não sabem o que contra-argumentar. O que dizer sobre A Mosca de David Cronemberg ou O Enigma do Outro Mundo de John Carpenter, dois dos maiores clássicos do horror oitentistas nos quais são remakes? Ou que falar de Cabo do Medo e Os Infiltrados de Martin Scorsese, um dos maiores gênios da atualidade?

Esse é o ponto mais delicado do assunto já que são o que podemos dizer, refutações nas quais, os projetos em si entregam aos que são contra o tema, fatos a questionar. Nem todos os projetos que ganharam remakes são considerados máquinarios de gerações de lucros, mas também uma homenagem correta, emocionante e extremamente eficiente as obras originais. Alguns conseguem criar uma olhada mais sensivel as obras passadas como o exemplo de Spielberg com Guerra dos Mundos ou Tim Burton para A Fantastica Fábrica de Chocolate. E infelizmente exitem alguns casos que sairam pela culatra como Psicose de Gus Van Saint e do próprio Tim Burton para Planeta dos Macacos.

Em sintese, a questão do remake em si se torna opcional para o espectador, afinal, é ele que valida o produto consumido ou não, ou seja, aceita ou não para si determinados projetos. Mas ao mesmo tempo, o próprio espectador pode saborear em si filmes comerciais com fins de divertimento puro e a sensibilidade de um filme artistico. Hoje o cinema não é mais para uns e outros como alguns tentam vender, entretanto, existem projetos que requer uma olhada mais profunda do espectador.

Hoje vivemos em uma sociedade que já foi proferida em Onde os Fracos Não Tem Vez no qual se vê em uma sociedade destorcida daquela imaginada nos tempos passados, ou seja, para muitos o conceito de cinema desapareceu mas também vem a ideia de que o cinema atual é culpada de tudo isso. Porém a visão que eu sou testemunha de toda a minha vida de cinefilo se adequa perfeito a frase final do monologo impecavel inicial de Tommy Lee Jones que diz em uma maneira quase melancolica, porém carregando o futuro incerto dentro de mim ... “Ok, eu farei parte desse mundo”.

Comentários

  1. O grande problema, na minha opinião, é quando o remake é apenas uma proposta cínica, motivada pelo interesse do público em determinado livro, série ou filme cult. Tem a ver com envolvimento! No mais é ganhar dinheiro, toneladas de US$.

    Cultura na web:
    http://culturaexmachina.blogspot.com

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  2. Boa discussão, João! Eu não vou ser radical a ponto de ser contra os remakes. Sou contra fazer releituras de filmes que não necessitam disso, porque já são bons. Acho que existem histórias que podem ser melhoradas e que, com um olhar diferente, podem render ótimos filmes. Nesses casos, sou favorável ao remake.

    Beijos!

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  3. É aquela coisa, se for bom, legal; se for ruim, lamenta-se. Até que ponto vale um remake, só se sabe quando se assiste, mas particularmente sou contra.

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  4. Acho que existe um nível de tolerância. Alguns filmes não podem MESMO ser refilmados. Agora, o "King Kong" de Jackson provou que é sim possível fazer um remake de clássico quando se tem paixão pelo material. Só acho que filmes muito recentes não devem ser tocados. Releituras para uma geração diferente, por outro lado, pode vir a ser proveitoso.

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