Bond Is Back - Especial 007 - Segunda Parte

Na segunda parte do especial e desculpem a demora, irei postar uma entrevista exclusiva com o jornalista Eduardo Torelli. Para quem não sabe, ele é um jornalista de renome nacional, que escreve para algumas revistas conceituadas como a Revista Set. O fato mais especial desse incrivel homem que ele é um escritor maravilhoso e profundo conhecedor sobre 007 e o seu livro "Sexo Glamour e Balas", o único livro nacional sobre o agente secreto. Dedico esse post a ele e aqui agradecer por ceder essa entrevista.

Cine JP - Eduardo, qual é a sua real expectativa para o longa Quantum Of Solace? Espera um Bond movie ou um filme bom?

Eduardo Torelli -
Espero um filme bom, mas não um “Bond movie”. “Cassino Royale”, por exemplo, foi um filme bom. E dificilmente não o seria, porque, com um orçamento polpudo de produção e toda a experiência do time da EON na realização de filmes desse gênero, dificilmente a produtora entregaria um produto ruim ou mal-acabado. Nunca tive dúvidas de que “Cassino” seria bom e tenho certeza de que “Quantum” também o será. A questão é se esses filmes “bons” são ou não “Bond movies”. Acho que não. Acho que houve uma completa descaracterização temática na série e esse personagem que nos apresentaram não é o mesmo idealizado por Fleming.












Cine JP - Lendo o seu livro, o espetacular Sexo, Glamour e Balas, você comenta na resenha de Cassino Royale de 2006 que foi o reboot da série, comenta os pontos positivos e negativos. Hoje, vendo que alguns reboots de séries como Batman e Hulk deram lucros positivos, o reboot de 007 foi a melhor saída ou ainda um das manobras mais arriscadas de toda a saga?

Eduardo Torelli - Obrigado pelo “espetacular”! Eu só me pergunto se este “reboot” era mesmo necessário. Os exemplos citados – “Batman” e “Hulk” – são séries de filmes que estavam em declínio e com déficit financeiro quando ganharam seus respectivos “reboots”. A série 007 estava indo muito bem, e a mudança de “tom” nos filmes (da fantasia rasgada de “Um Novo Dia Para Morrer” ao realismo de “Cassino Royale”) poderia ter sido conduzida sem que se zerasse a cronologia da série, o que é, sim, uma atitude extremamente radical e de risco. Não no presente, mas a longo prazo. Não sei se essa nova fase dos “Bond movies” terá força suficiente para alavancar outras quatro décadas de filmes – e não podemos contar mais com os longas-metragens anteriores como “base” para a manutenção do mito, pois o “reboot” excluiu qualquer conexão com aqueles filmes. Além disso, o “reboot” idealizado por Bárbara Broccoli e Michael G. Wilson foi um “reboot” desastrado. Costumo traçar a seguinte comparação: é como se “Lost” fosse “rebootada” entre a atual temporada e a próxima – e de repente, tivéssemos outra queda de avião, um elenco inteiramente novo e o início de uma nova história... Mas Locke continuasse a ser interpretado pelo mesmo ator, simplesmente porque os produtores gostam dele ou porque é um intérprete reconhecido pela crítica. Qual o sentido disso? O que Judi Dench faz nos novos filmes? Enfim, por que “rebootar” a série, se não havia nenhuma razão financeira ou crítica para isto?














Cine JP - Estava comentando com uma amiga minha sobre um fato curioso. Que algumas franquias estão buscando não só apenas agradar os fãs, mas sim buscando trazer novos adeptos a suas franquias com elementos de qualidade e confiança que atraem o grande publico. Achas que a franquia de Bond está visando isso ou não? Comente.

Eduardo Torelli -
Acho que a franquia “Bond” está fazendo isto, sim, mas a estratégia tem um alto preço. Para atrair esse novo público que você citou, eles estão descaracterizando completamente o personagem. Não é preciso ser gênio para levar à frente uma estratégia como esta. Por exemplo, se a moda de repente passar a ser a dos filmes de ficção científica, os produtores de “O Hobbit” poderiam ambientar a próxima adaptação da obra de Tolkien no espaço, e não na Terra Média. Mas isto seria muito ruim para a mitologia de Tolkien, não? O mesmo está ocorrendo com 007. Ian Fleming nunca imaginou um agente nos moldes de Jason Bourne, e os produtores, para atrair esse público mais flutuante, simplesmente privaram Bond de suas peculiaridades habituais, que lhe davam uma “identidade” no panteão cinematográfico (as frases de efeito, o gun barrel etc.), e o transformaram em um personagem canhestro, próprio dos filmes de ação americanos. Assim, a estratégia terá sucesso, mas o personagem será progressivamente degradado até se tornar uma entidade irreconhecível para o grande público.



Cine
JP - Voltando um pouco a saga, qual foi o primeiro filme que você assistiu do agente em sua vida e qual foi aquele que lhe marcou em seu coração?

Eduardo Torelli -
“007 Contra Goldfinger”, quando o filme estreou na Rede Globo nos anos 70 (acho que em 1979). Nunca tinha visto um longa do personagem e adorei a mistura de ação, ficção científica, cenas picantes e absurdos dosados com precisão cirúrgica. Na mesma época comecei a ler os livros de Fleming. No cinema, o primeiro “007” que assisti foi “Octopussy”. Também me causou uma impressão muito forte.



Cine JP - No processo de criação do seu livro Sexo, Glamour e Balas, qual foi o momento mais difícil e o mais gratificante? E Será que pode ocorrer uma terceira edição do livro Eduardo?

Eduardo Torelli -
O momento mais difícil foi concluir a pesquisa e a redação enquanto trabalhava alucinadamente em diversas publicações da Opera Graphica (a editora de “Sexo, Glamour e Balas”, que também terceirizava a produção de revistas para a editora Escala, aqui de São Paulo). Eu tinha que trabalhar no livro à noite, muitas vezes de madrugada – e nesse meio tempo, entre o início da pesquisa e a publicação da primeira edição, meu pai adoeceu e faleceu. Assim, esse trabalho é, para mim, um misto de muita alegria e muita tristeza (a alegria, fruto da satisfação que senti quando a obra foi positivamente resenhada no “Estadão”, na revista “Isto É”, na “Folha de São Paulo” etc.). Quanto a uma terceira edição, francamente, não me sinto muito estimulado a fazê-la, porque não me identifico com esse novo momento cinematográfico do personagem. Mas quem sabe em alguns anos, se as coisas voltarem a mudar na EON?


Muito Obrigado Torelli, e que esse post eu dedico a você, além de um jornalista formidavel, um grande amigo. Um grande abraço a você e a todos que lêem o blog.

Daqui a dois dias, a resenha de Quantum of Solace.

Comentários

  1. Muito boa a entrevista, JP.
    Não sou um profundo conhecedor de James Bond e pretendo alugar muitos dos antigos filmes para assisti-los. Concordo que descaracterizou o personagem, mas acho que eles estão fazendo isso de uma boa forma, já para se tornar o 007 tão conhecido, era interessante vermos suas trapalhadas, suas ações nada discretas, enfim, um filme mais bruto e sem aquele charme digno do personagem. Gostei bastante do Cassino Royale, onde eles investiram mais no realismo e acabei de assistir Quantum of Solace. Uma boa continuação, mas achei inferior a Cassino.

    ResponderExcluir
  2. João, mais uma excelente entrevista! Este seu material, na verdade, está incrível.

    Abraços.

    ResponderExcluir
  3. Nossa, João, que chique!!! Costumo ler as matérias que o Eduardo Torelli faz, para a SET, e é um prazer ler uma entrevista dele aqui! Adorei o post! Parabéns!!! O especial está 10!!!

    ResponderExcluir
  4. Excelente entrevista J.P! Você está amadurecendo cada vez mais nos materiais e nas postagens. Conteúdo de primeira mesmo! nem sei o que é que você ainda tá fazendo nesse ramo de direito, seu lugar é nas telonas.
    hehehe
    Agora queria ressaltar que discordo em boa parte do que Kamilla disse, e concordo plenamente com o que Eduardo Torelli falou,afinal, quem sabe sabe né?
    Como já havíamos conversado antes, está havendo infelizmente uma descaracterizacão do personagem e na minha opinião isso nada mais é do que um subterfúgio para atrair um novo público que não está muito focado na fidelidade do personagem em si, e sim de um herói rotulado em milhares de filmes de ação que vemos poraí. Uma pena isso ter acontecido já que era isso que tornava James Bond imparagonável.

    ResponderExcluir
  5. Excelente entrevista. Me interessei até pelo livro. Agora, vi o filme e achei muito bom. Aguardo a resenha.

    Ciao!

    ResponderExcluir
  6. Cara, Parabéns!

    O Torelli é muito bom! E tem um vasto conhecimento em cultura pop!

    Abs!

    ResponderExcluir
  7. Muito boa a entrevista, aliás parabéns por isso, não é fácil conseguir um nome importante para comentar sobre Bond!

    ResponderExcluir

Postar um comentário